"Malèna": A Beleza com Perigo

“Malèna” é um filme Italiano do ano de 2000, dirigido por Giuseppe Tornatore. Com uma duração de somente 1 hora e 30 minutos, o filme conta um drama de guerra sob o ponto de vista pouco explorado na época de lançamento do filme. Ele está disponível para alugar nas plataformas Claro Vídeo e Microsoft.

A narrativa segue Renato Amoroso (Giuseppe Sulfaro), um garoto em uma vila na Sicília em plena Segunda Guerra Mundial. Quando ele ganha uma nova bicicleta, entra para um grupo de meninos mais velhos e é apresentado ao segredo deles: Observar Malèna Scordia (Monica Bellucci). Renato, apaixonado, passa então a seguir todos os passos de Malèna, e ficamos sabendo das dificuldades pelas quais ela passa e ainda como a guerra está afetando todos na vila.

“Malèna” é um filme sobre amadurecimento sexual que naturalmente vem com a puberdade, marcada aqui na narrativa por Renato, mas ele também não deixa de ser um comentário ácido sobre muitos outros temas, como misoginia, assédio sexual e inveja, além de hipocrisia. Dentro da narrativa, mesmo que o filme leve o seu nome, Malèna é mais um ícone, um símbolo, e ela é construída como tal, salvo algumas cenas em que a audiência tem um vislumbre de sua vida longe dos olhos das pessoas.

Uma coisa que me chamou muito a atenção foi o controle de narrativa que Tornatore e Luciano Vincenzoni têm, principalmente nas cenas em que vemos Malèna sozinha ou somente com uma pessoa. Não há necessidade para diálogos expositivos para que a audiência entenda o que está acontecendo, e isso é um aspecto refrescante do filme.

“Malèna” é lindamente construído, desde a cinematografia por Lajos Koltai, e direção tão tipicamente quente para combinar com os cenários italianos, ás performances e a trilha sonora. É maravilhoso ver que todos esses aspectos do filme trabalham em conjunto para causar as sensações desejadas no público: seja comédia, surpresa, ultraje, raiva. “Malèna” é uma montanha russa extremamente eficiente.

Durante o desenvolvimento da trama, o filme ainda trata de temas como a solidão, tanto de Malèna, que está, não por escolha própria, á parte do grupo social em que ela se encontra e de Renato, sozinho em seu desejo de protegê-la das reações invasivas, rudes e hipócritas do resto da vila. E ainda toca na exclusão não só do diferente, mas também do excessivo: o que coloca Malèna em risco é o excesso de beleza, e a liberdade com que ela vive esse aspecto de sua identidade.

Para audiências mais sensíveis, preciso comentar que “Malèna” não foge de cenas que possam ser chocantes, como os cenários fantasiosos criados por Renato, e as inúmeras cenas de nudez. No entanto, Giuseppe Tornatore nunca trata essas cenas como algo vulgar, o que apesar do estranhamento inicial, não se torna algo particularmente desagradável no filme, talvez ainda causando um desconforto.

As performances de todo o elenco estão maravilhosas, com Monica Bellucci e Giuseppe Sulfaro sendo o centro das atenções em todas as cenas. É impressionante que ambos não falam muito no filme, promovento essa dinâmica de observado e observador, mas mesmo assim tem um relacionamento, mesmo esse sendo desconhecido por Malèna.

A vila em si acaba sendo sendo retratada como um personagem, com seus habitantes movendo em sincronia e ela representa o antagonista principal tanto para Renato quanto para Malèna, mesmo que o grupo de homens e mulheres apresentem facetas diferentes em reação á Malèna.

O filme de Tornatore é um que se utiliza de um aspecto positivo de uma pessoa, a beleza, e a torna um perigo para quem o possui numa situação em que ela chama atenção, causando discórdia e caos numa sociedade machista e intolerante. É uma crítica e uma metáfora exagerada da nossa sociedade, com Renato sendo o possível contraponto desse comportamento predador.