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"Lovecraft Country": Uma Releitura justa do Universo de H.P. Lovecraft

Updated: Apr 17

Série original da HBO adaptada do livro de 2016 e de mesmo nome, pelo escritor Matt Ruff, “Lovecraft Country” é uma minissérie de drama e terror, e conta com 10 episódios de uma hora de duração cada. A série explora o universo criado pelo escritor H.P. Lovecraft nos anos 1920 e 1930, mas de um jeito inusitado e criativo, além de extremamente satisfatório para quem conhece o autor original e seu histórico racista e preconceituoso.


Jurnee Smolett e Jonathan Majors no poster original
Jurnee Smolett e Jonathan Majors no poster original

A história segue uma série de protagonistas no início dos anos 1950 em Chicago. Atticus (Jonathan Majors) segue para a cidade quando descobre que seu pai, Montrose (Michael Kenneth Williams), sumiu em circunstâncias misteriosas. Ele convence seu tio, George (Coutney B. Vance) e uma velha amiga, Letitia (Jurnee Smollett) a ajudarem na busca. Mas embora esses sejam os personagens que a audiência mais segue, há uma gama de outros personagens que compartilham o universo com eles, igualmente interessantes.


Numa narrativa que se passa na época da segregação racial nos estados do sul dos Estados Unidos, nossos protagonistas tem que lidar com esse obstáculo constante e ainda com a descoberta que Magia existe, e o mundo é muito mais estranho do que parecia á primeira vista. É como os espectadores são apresentados a monstros e conceitos aterrorizantes, não só vindos das páginas dos livros de Lovecraft, mas também de períodos marcados pela ignorância e ódio.


O roteiro, em sua maioria creditado a Misha Green, é cheio de pistas quanto ao futuro do grupo de protagonistas - Que continua a crescer - e é violento, cru e muitas vezes cruel, não se intimidando pelos temas, que podem ser polêmicos, que a série faz questão de por em pauta. Além da temática racial, temos a social e Misha Green também aborda o tema de famílias disfuncionais, sendo os protagonistas produtos diretos dessas dinâmicas tóxicas.

De seus personagens, é notável que nenhum dos protagonistas é uma pessoa perfeita, apesar de muitos deles possuírem características de heróis clássicos do gênero; algumas vezes cruzando a linha da moralidade para alcançar seus objetivos. Eles alternam de vítimas da sociedade para mestres manipuladores em questão de cenas e situações, mas nunca se afastando muito do objetivo principal dos protagonistas até o meio da série: sobreviver a uma sociedade racista e hostil.


Misha Green também aplica um pouco de intertexto em seus roteiros, que cai muito bem com as origens literárias do universo em que as narrativas estão inseridas. Seus episódios são contidos em si mesmos, trazendo a sensação de que são verdadeiros capítulos de um livro. Em meio a outras séries que terminam seus episódios em ganchos dramáticos, e verdadeiros “filmes de 10 horas”, a estrutura de Lovecraft Country parece fresca e muito bem vinda.


Outra surpresa maravilhosa foi descobrir nos créditos, que a série conta com a colaboração de dois dos melhores criadores de conteúdos de suspense e mistério: Jordan Peele e J. J. Abrams. Suas ideias e influências narrativas são óbvias para quem segue o trabalhados dos dois. (Tirando um momento para indicar os trabalhos desses dois, porque são fantásticos!)


Para os espectadores mais apreensivos em acompanhar a narrativa de terror, é válido deixar claro que embora hajam cenas e episódios que trazem o arrepio de medo, a série em si foca muito mais na unidade dramática e emocional do que em jump scares.


Pela direção, temos uma unidade bem construída, os 10 episódios são conduzidos por Cheryl Dunye, Daniel Sackheim, Victoria Mahoney e Yann Demange. Eles conseguem criar uma narrativa visual interessante e emocionante, e alguns planos chamam a atenção pela criatividade com que eles foram criados, mas nada muito diferente de um filme de terror sobrenatural.


Wunmi Mosaku em "Lovecraft Country"
Wunmi Mosaku em "Lovecraft Country"

As performances são simplesmente maravilhosas. O elenco e sua dedicação á série acarretou 18 indicações ao Emmy de 2020, incluindo melhor elenco e em especial o elenco principal. O que chama mais atenção é o número de personagens femininas na tela, e em minha opinião, as performances de Jurnee Smollett e Wunmi Mosako (No papel de Ruby, irmã de Letitia) capturam demais a atenção quando elas estão em cena. Michael Kenneth Williams também rouba a atenção em diversas cenas, e o desafio é trazer alguma humanidade a seu personagem, que é extremamente antipático.


Abbey Lee como "Christina"
Abbey Lee como "Christina"

Como a estrutura é episódica em sua maioria, “Lovecraft Country” é cheio de vilões, mas uma específica confunde os espectadores com suas intenções. Christina Braithwhite (Abbey Lee) funciona mais como uma antagonista e um ícone do privilégio do que uma vilã propriamente dita, e a performance da atriz e as atitudes da personagem criam dúvidas quanto a suas verdadeiras intenções. É divertido e interessante seguir o jogo de gato e rato que ela traça com os mocinhos.


Embora Lovecraft Country funcione muito bem como uma minissérie, tendo sua narrativa fechada na temporada, Misha Green e outros produtores já deixaram claro que tinham planejado uma segunda temporada e até mais. A razão pela qual HBO cancelou a série permanece um mistério, e infelizmente parece definitivo.

 
 
 

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Matinê Baiana

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