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Eu Me Importo: ...Só que não?

Eu me Importo” (I Care a Lot) é um filme original Netflix lançando em 2020. Foi dirigido por J Blakeson, e tem 2 horas de duração. O longa está na categoria de filmes de crime, e explora a subcategoria de “neo-noir” sob um ponto de vista inusitado, mas que pode ser mal recebido por alguns tipos de audiência.

Rosamund Pike como "Marla Grayson"

A narrativa segue Marla Grayson (Rosamund Pike), uma ambiciosa golpista e guardiã legal que usa técnicas ilegais para conseguir controle sobre a propriedade e bens materiais de seus protegidos, e assim ascender na cadeia alimentar do capitalismo. Quando ela mexe com uma senhora que parece inofensiva, mas tem um passado misterioso, seu plano é posto em risco e Marla tem que usar toda a sua perspicácia para escapar da situação.


O filme tem vários momentos de comédia macabra, indicando que era a intenção do projeto oferecer uma paródia da tendência narrativa que está bem em alta desse nosso período: a Girl Boss. Essa é uma mulher que não necessariamente tem escrúpulos morais, e que é capaz de fazer qualquer coisa em seu poder desde que ela alcance seu objetivo, desafiando o status quo da sociedade patriarcal. É o que acontece com Marla Grayson, salvo um único detalhe que na minha opinião, quebra o filme e a sua função: Ela não é uma protagonista carismática.


Durante o passar dos anos, vimos vários protagonistas que caem na categoria de “Essa pessoa é má e cruel, mas ela tem esse traço bom que nos faz gostar dela”, e isso é importante para que a narrativa ofereça um personagem por quem a audiência torça. Até os vilões estão sendo mais humanizados hoje em dia! O problema com Marla Grayson é que seu passado não é explorado, nem uma razão para tal, sendo a sua ambição a única característica de sua personalidade realmente explorada. A protagonista é um artifício narrativo dentro de seu próprio filme!


Então, no roteiro, também de J Blakeson, Marla Grayson é uma Femme Fatale. Ela é um arquétipo, assim como a maioria dos outros personagem em “Eu me Importo”. As vezes, um filme é um recorte na vida daqueles personagens, dando pouca importância ao passado deles, mas é uma decisão arriscada, como já falei antes. E como isso aconteceu sem o desenvolvimento da protagonista, passei algum tempo no Instagram enquanto o filme estava passando.

Peter Dinklage e Rosamund Pike em "Eu me Importo"

O núcleo da história, além da Marla, é: O vilão criminoso (Peter Dinklage) - Mas esse é “pior” que a protagonista, mesmo que a gente não saiba porque -, que tem seus objetivos mudados no meio do filme, acabando com o seu interesse humanizado. Depois temos a namorada apoiadora (Eiza González), que é tão obstinada quanto Marla que infelizmente parece estar ali só para dar visibilidade a um relacionamento LGBT+; e a rede de capangas de Marla, desde médicos a advogados que mais parecem objetos de cenário.


Em meio a essa confusão de “Não vou com a cara de tal personagem, por isso não me importo”, a crítica ao capitalismo e á ambição que beira o crime fica jogado de lado, pois a audiência tem dificuldade em engajar com aquela narrativa. É o que acontece também com alguns conceitos e situações que poderiam ter sido muito mais interessantes do que foram com o projeto finalizado. É uma pena, porque o cinema precisa mais de filmes neo-noir.


Fora esse problema com a simpatia e a evolução dos personagens, o filme é decentemente executado, principalmente quando se trata das performances. Rosamund Pike é melhor conhecida por seu papel em “Garota Exemplar”, e parece bem a vontade representando Marla Grayson, que parece uma evolução de sua personagem Amy Dune. O elenco coadjuvante também não é nada mal, mas infelizmente não deram muito material para eles desenvolverem melhor as relações de seus personagens com os outros.



O que mais chama atenção, é a trilha sonora, por Marc Canham. Apesar de ter um ritmo âncora que aparece em quase todas as trilhas, o conjunto, todas músicas, eletrônicas, trazem uma vibe positiva, eletrizante para as cenas. É um exemplo de uma trilha que talvez funcione melhor até fora do filme, e é uma boa para quem gosta de estudar, pesquisar e ler escutando música.


Concluindo, “Eu me Importo” é uma sátira que saiu pela culatra, e um exemplo de que mesmo uma tomada mais inovadora em um gênero não funciona se a construção de personagem não for simpática. As pessoas tem que ter alguém por quem se importar, e infelizmente… Eu não me importo.

 
 
 

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Matinê Baiana

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