"A Noite das Bruxas": me decepcionar uma vez ainda vai, mas duas...

Os livros de Agatha Christie não são mais nem menos que legendários no gênero do mistério. Eles dominaram a imaginação daqueles que estão atrás de uma boa história de gato e rato por décadas, mas de uns tempos para cá a eficácia das narrativas de Christie tem sido postas em cheque pelas adaptações cinematográficas.

Parte do Elenco do filme

Com "Assassinato no Expresso do Oriente", (Murder on the Orient Express), o ator e diretor Kenneth Branagh trouxe um dos mais emblemáticos detetives da literatura de volta a vida: Hercule Poirot. Depois do sucesso do filme, que quebrou algumas barreiras estabelecidas na estrutura de um bom mistério até aquele ponto e apresentando um elenco de peso, o filme iniciou uma franquia.

"A Noite das Bruxas" (A Haunting in Venice), que chega hoje, 14, nos cinemas brasileiros é a 3ª adaptação recente dos livros de Agatha Christie em que o Detetive Poirot (Kenneth Branagh) é o protagonista. O filme apresenta a mesma fórmula que os anteriores: Assassinato no Expresso do Oriente" e "Morte no Nilo" (Death on the Nile).

Infelizmente assim como o segundo filme, "Noite das Bruxas" apresenta um caso raso e previsível, senão simplista. Seguimos um número de convidados para uma sessão espírita em uma mansão em decadência de uma cantora de ópera aposentada por trauma, Rowena Drake (Kelly Reilly) quando logo depois da entrada da vidente, Madame Reynolds (Michelle Yeoh), uma tempestade os mantém presos no prédio.

Kenneth Branagh como Hercule Poirot

Atraído por uma amiga a desmascarar a farsante que prometia trazer a alma da filha da cantora numa sessão espírita, Poirot é mais uma vez colocado no caso quando todos descobrem que um deles é o responsável pela morte da garota, algum tempo antes.

Com a estrutura clássica das narrativas de Christie de pé, Branagh juntou um forte elenco, que ainda conta com Tina Fey, Kyle Allen, Jamie Dornan e Jude Hill como alguns personagens-chave.

Mas o que tinha começado bem em 2017 com o primeiro filme aqui já se apresenta de um jeito monótono. A audiência já está acostumada com a estrutura da franquia e a quantidade de personagens impede que alguns deles sejam propriamente desenvolvidos em cena, e são usados meramente como ferramentas de plot.

Isso põe em cheque o que os romances de Agatha Christie tinham de mais interessante: o estudo de personagem. Seus dilemas, desejos ocultos, faces duplas, capacidade de monstruosidade. Nos filmes, o que toma o palco central é o caso, que é bem enfraquecido quando apresentado à uma audiência que está acostumada com trabalhos mais bem elaborados.

"A Noite das Bruxas" tem somente dois aspectos em que ele se torna decente: As performances, em especial a de Tina Fey, Kelly Reilly e Michelle Yeoh, e o equilíbrio meio precário entre os sub-gêneros de mistério e terror que nesse filme andam muito de mãos dadas.

A direção de Branagh é interessante em alguns pontos, mas mundana em outros, trazendo imagens bonitas, mas que não chamam atenção por si só. O mesmo pode ser dito de sua performance: se no início Poirot era um suspiro de alívio dentre os detetives que sempre estão "sérios demais", nesse terceiro filme a performance de Branagh tende ao ligeiramente forçado.

"A Noite das Bruxas" conta com 1 hora e 44 minutos de duração e está disponível nos cinemas do Brasil a partir de hoje, 14 de setembro de 2023.